RETIRANDO ALGUNS VÉUS SOBRE A HISTÓRIA DO MARTINISMO E DE SUAS ORIGENS

 OS CAVALEIROS MAÇONS ELUS COHEN DO UNIVERSO E O MARTINISMO

Documento antigo com o selo da Ordem dos Cavaleiros Maçons Elus Cohen do Universo.

Não há dúvidas de que a história do Martinismo, doutrina fundada por Louis-Claude de Saint-Martin, mais conhecido com o Filósofo Desconhecido, se encontra estritamente vinculada espiritualmente à sua primeira Escola (Os Cavaleiros Maçons Elus Cohen do Universo) e a seu primeiro Mestre, o taumaturgo (milagreiro) Martinez de Pasqually.(1)

(1) Encontraremos duas grafias para o nome do Mestre, são elas: Martinez de Paqually ou Martinès de Pasqually. Ambas são reputadas como corretas e amplamente utilizadas em várias obras sérias e consagradas à história misteriosa dos Elus Cohen e de seu fundador.

À doutrina fundada por Pasqually, convém ser denominada de Martinezismo ou Martinesizmo, neologismo extraído de seu próprio nome para fazer a distinção com o Martinismo, doutrina fundada por Louis-Claude de Saint-Martin e principal discípulo de Martinès de Pasqually. No entanto, vemos facilmente em muitos textos e livros de autores célebres estas duas doutrinas sendo indicadas como sendo a mesma. E isso acontece justamente pela proximidade entre os nomes de seus respectivos fundadores: Martinès e Saint-Martin.

Um dos mais célebres defensores de ambas doutrinas, Robert Ambelain, também utiliza o termo “Martinismo” para classificar essas duas correntes espirituais. No texto que se segue, de autoria de R. Ambelain, ele destrincha de maneira brilhante a história da primeira escola de Saint-Martin e foca sua descrição em aspectos históricos e ritualísticos dos Elus Cohen que nos permitirão uma clara distinção das duas doutrinas, quando comparadas uma com a outra, mas que permanecem eternamente unidas por laços fraternais indissolúveis, assim como os Elus Cohen possuem os mesmos laços de fraternidade com a franco-maçonaria oculta do século XVIII.

Charles Lucien de Lièvre

A CIÊNCIA SECRETA, COLETÂNEA DE TEXTOS ESOTÉRICOS REUNIDOS POR PAPUS

Neste trabalho, o célebre ocultista do século XIX e fundador da Ordem

Textos esotéricos de grande qualidade reunidos pelo célebre ocultista Papus.

Martinista moderna, reúne textos de altíssima qualidade iniciática, redigidos por seus amigos, também ocultistas, e tão célebres quanto ele. Dentre os nomes desses iniciados podemos citar: Charles Barlet, Saint-Yves d’Alveydre, Stanislas de Guaita, Eugène Nus, entre outros. Além disso, o tradutor desta obra, colocou na primeira parte desta Coleção “Martinismo Sem Mistérios”, um Suplemento Martinista Prático com exercícios, conselhos e dicas para que o buscador sincero possa conduzir com sucesso sua carreira martinista. Saiba mais:

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O MARTINISMO
HISTÓRIA E DOUTRINA

A Franco-Maçonaria Ocultista e Mística

(1643-1943)

Robert Ambelain

Receba, Senhor, de acordo com o desejo do Filósofo Desconhecido, nosso Mestre, a homenagem que Te fazem neste local, os Teus servidores aqui presentes! Que esta Luz misteriosa ilumine nossas mentes e nossos corações, assim como ela envolveu, antigamente, as obras de nossos Mestres! Que estas chamas iluminem sua clareza vivificante os Irmãos reunidos para Teu apelo, que a presença seja constantemente um vivo testemunho de sua união...”

É por essa razão, sob a forma que adotaram, antigamente, nossos Mestres, permitamos aos Símbolos de manifestarem-se!...”

(Idem).(1)

(1) É com a autorização do Grande Mestre Substituto da Ordem Martinista Tradicional que lhes damos os três trechos deste Ritual. (N.D.A.L.)

NOTA DO AUTOR

Em outras obras, editadas antes e após a guerra, apresentamos doutrinas esotéricas, frequentemente, bem diferentes umas das outras.

Nós o fizemos, todas as vezes, com imparcialidade e cuidado na exatidão. Nós, até mesmo, exageramos nos cuidados, até o ponto de parecer esposar essas doutrinas. O que nos rendeu ser gratificados por elogios bastante diversos, no âmbito das leituras de algumas pessoas! É assim que, desde o surgimento de nosso livro sobre o simbolismo das Catedrais, fomos identificados como pertencentes a uma seita satanista das mais deploráveis. Não conhecíamos bem exatamente o nome e os princípios, mas só poderia ser a mais negra das magias. Com o nosso estudo sobre a Gnose e os Ofitas, nos tornaram luciferianos fanáticos, porém, nos fizeram o grande favor de não nos esmagar com o apelido (no entanto, bajulador este!) de rosa-cruzes, apesar de o último capítulo tratar de sua doutrina. A bem verdade, nosso amor próprio foi levemente abalado!

Hoje, publicamos um estudo sobre o Martinismo. Sem alguma dúvida, nos reportaremos à herança espiritual de Martinez de Pasqually, não deixaremos de descrever com prazer as cerimônias místicas pelas quais nós tentamos, em nosso orgulho perverso, submeter as Potências do Mal sob nosso império, de evocar as Inteligências Celestes e de travar relações com elas, e mesmo tentar como um sacrilégio desafiador, como o de Martinez de Pasqually e seu discípulo, Louis-Claude de Saint-Martin, evocar aquele que nomeavam “O Reparador”.

Os adversários fanáticos das sociedades secretas do Ocultismo nos traçarão pesados e tenebrosos quadros e nos classificarão, quiçá, entre o misterioso conluio dos “Superiores Incógnitos”! Perguntar-se-ão onde obtivemos nossa abundante documentação, e por qual milagre estamos à altura de conhecer os fatos e os gestos de uma fraternidade multi secular, no decurso de um período no qual, proscritos e perseguidos com vigor, seus afiliados tiveram de redobrar a prudência e as precauções.

Responderemos às críticas malintencionadas, a nossos adversários declarados ou não, que isto pouco importa ao valor do livro. Pelo fato de termos os arquivos que lhes escaparam, por termos sido documentados com a intenção, ou por termos tido o direito de acesso a um domínio cujas portas lhes permanecerão sempre rigorosamente fechadas. Isso só nos diz respeito. Entregamos ao público um trabalho, que pretende ser histórico e dogmático. Esta é a única coisa que colocamos em julgamento… (1)

Quanto ao resto, confiamos a um tal Kerub, guardião de um determinado “Portal” para conceder-lhes ou não o acesso a este santuário que até agora eles têm buscado inutilmente!

Robert Ambelain

(1) É assim que, na página 188 de nossa obra “Nas Sombras das Catedrais”, escrevemos isso com relação ao legendário sabbat medieval: “A missa negra celebrada sobre os rins ou sobre o ventre aberto de uma mulher nua havia sido igualmente o seu esoterismo. A lenda do sabbat nos diz que...” Depois, na página 189, trinta e sete linhas mais adiante, esperando ter feito alusão ao sentido superior deste rito de baixa magia, nós escrevíamos: “Acabamos de falar sobre isso para colocar o verdadeiro Adepto sobre a via”. Alusão ao papel de NETZACH, a Sefira correspondente aos rins da “Mulher Cósmica”, isto é, a um centro energético universal! E isto tornou-se sob a pluma maledicente do Sr. Cancellet “alquimista especulativo” o ensinamento tendencioso que aqui exponho: “O Sr. Ambelain, ele, celebra sua missa negra sobre os rins ou sobre o ventre de uma mulher nua e nos deixa claro envergonhe-se quem nisto vê malícia no objetivo, acrescenta ele, de colocar os verdadeiros Adeptos sobre a Via...” Como se pode ver pela comparação do texto e o que se torna entre as mãos habilidosas de nosso acusador, a missa negra é o principal de nossos passatempos! É verdade que, este mesmo personagem que, por volta de 1935, ia espalhar a notícia que Fucanelli publicaria “logo sobre a terceira obra (sic.) Nós fomos aqueles que cortamos as asas deste pato… interessado! A ‘terceira obra’ foi editada. Ela está assinada … Cancellet!” Agradecemos aos Deuses por nos ter poupado das admiráveis “Reflexões Filosóficas” uma familiaridade nominativa de muitos subprodutos de Cancellet. Na próxima reedição de “Nas Sombras das Catedrais” nosso amigo J. B. dissipará todos os equívocos, sabiamente trabalhados durante doze anos, sob a personalidade real do mestre que foi Jean-Julien Champagne, aliás, Fucanelli…

INTRODUÇÃO

Aqueles que se aproximaram do mistério das Iniciações, e aqueles que o ignoram, não terão, na permanência das Sombras, um destino semelhante.”

Jâmbico

Senhor, eu vou lhe transmitir a iniciação de acordo com o nosso Mestre, Louis-Claude de Saint-Martin, tal qual eu a recebi de meu iniciador, e tal qual ele mesmo a recebeu, e isso desde de Louis-Claude de Saint-Martin em pessoa, ou seja, há mais de cento e cinquenta anos. Porém, antes eu lhe convido, como convido meus Irmãos aqui presentes, a reunirem-se comigo para santificar esta Sala, a fim de que ela se torne pela virtude da Palavra e do Gesto, o Templo Particular (1) onde será celebrado o mistério desta iniciação tradicional…”

É por essa razão, sob a Forma adotada, antigamente, por nossos Mestres, permitamos aos ‘Símbolos’ de se manifestarem...”

Dezembro de 1940. A neve cobre Paris. Neste fim de tarde, na hora em que o sol pálido declina e morre no horizonte avermelhado, alguns homens estão reunidos, em um cômodo situado no último andar de um imóvel no Quartier Latin. Velha casa do século XVIII, ao longo de uma monumental escada de madeira. Lá fora, nas ruas, nas praças, nos cafés, por toda a parte, o exército alemão vitorioso. Por toda parte também os agentes do Governo de Vichy. O terror policial reinava sobre as Sociedades Secretas e sobre os Iluminados. Perseguições, invasões, prisões chovem sobre os foras-da-lei. Mas aqui, é um outro mundo…

(1) Do latim “particularius”: uma pequena parte.

Sobre a mesa recoberta por uma tríplice toalha: preta, branca e vermelha, emblema dos Três Mundos, a Espada com a empunhadura em forma de cruz projeta seu brilho através do Evangelho de São João. Atrás, na claridade de três altos círios acesos e dispostos em forma de triângulo, vagamente velados por uma fumaça odorífica, desenha-se a silhueta imprecisa do Iniciador, o Incensório em mãos. Ele traça no espaço, com um gesto largo e seguro, o Sinal misterioso.

À parte, solitário, queima um outro Círio. Apoiado sobre a base do candelabro, um cordão e uma máscara.

O Círio dos “Mestres do Passado”.

No silêncio dos Assistentes, mudos e recolhidos, a voz grave continua a proferir o ritual, e as palavras do Sacramento se repercutem, claras e nítidas, adjuradoras como as Litanias. Elas estabelecem — para além do Espaço e do Tempo — o “ponto” que deve unir os Vivos e os Mortos. E parece que, repentinamente, a sala fica povoada por Presenças Invisíveis.

Receba, Senhor, segundo o Desejo do ‘Filósofo Desconhecido’, nosso Mestre, a homenagem que Te fazem neste local Teus servidores, aqui presentes! Que esta Luz Misteriosa ilumine nossas mentes e nossos corações, como ela envolveu, antigamente, as Obras de nossos Mestres! Que estas Chamas iluminem com a Claridade vivificante, os Irmãos reunidos por Teu apelo! Que a presença deles seja um constante testemunho de sua União...”

Detalhada com minúcia, a Cerimônia Iniciática se desenvolve, cheia de grandeza. O próprio tempo parece desaparecer.

Eis que um dos Assistentes colocou, enfim, a máscara emblemática, imagem do Silêncio e do Segredo, sobre o rosto do Recipiendário. Um outro o vestiu com o Grande Manto, símbolo de Prudência. E um terceiro o cingiu com o Cordão, que recorda a “Cadeia da Fraternidade”.

O lento ofício teúrgico continua. E após a consagração do novo Irmão, a aposição do “nome esotérico”, ressoam as últimas palavras, e a cerimônia chega a seu fim:

Que você possa, meu Irmão, fazer jus às palavras do Zohar: Aqueles que estiverem de posse do Conhecimento Divino, brilharão com todo o luar dos Céus… Mas aqueles que o tiverem ensinado aos Homens, segundo as Vias da Justiça, brilharão como as Estrelas por toda a Eternidade!...”

Em direção ao Círio solitário, em direção à chama imóvel onde velam as almas dos “Mestres do Passado”, o Iniciador e o Iniciado se viraram:

Irmãos, eu lhes apresento, N…, ‘Superior Desconhecido’ de nossa Ordem e lhes peço para recebê-lo em nosso meio...”

Uma extraordinária angústia aperta o coração de todos os assistentes. No Oratório, onde a fumaça do Incenso desseca as gargantas, onde parece que toda a Vida tenha se refugiado nas pequenas chamas que, altas e retas, dançam, dançam, dançam e não são os vivos que parecem mais reais. E sobre os grandes mantos, máscaras, estolas de seda branca, atrás do flamejamento dos gládios, acredita-se ver tão somente os defuntos… Bem ao contrário, os mais vivos são os Mortos da Ordem, os “Mestres Passados” mais próximos!

Ao apelo da palavra, todos vieram. Apesar dos séculos! Eles estão aí, fiéis ao encontro mágico: Henry Kunrath, o autor do Anfiteatro da Eterna Sapiência… Séthon, o prestigioso “Cosmopolita” morto pelos cavaletes de tortura do Eleitor da Baviera, Cornelius Agrippa, médico e alquimista de Charles V, que morreu na fome e na miséria… Christian Rosenkreutz, o peregrino da sabedoria… Jacob Boehme, o silesiano Iluminado… Robert Fludd, de inteligência maravilhosa, morto em um impasse inquisitorial… François Bacon, que é suspeito de ser o grande Shakespeare, Martinez de Pasqually “o mestre” que sabia evocar os Anjos… Claude de Saint-Martin o porta-voz do “Filósofo Desconhecido”… Willermoz, depositário fiel de seu Mestre Martinez. E todos os outros cujos nomes me escapam e que, sendo oficiais, grandes senhores, ou profanos sob o grande manto negro com balandrau, sob o nó empoeirado, levaram aos quatro cantos da Europa, neste século XVIII liberador que viu, enfim, se realizar o “grande esboço” dos Rosacruzes, o misterioso eco da “Palavra Perdida”

E, dominando todas essas sombras, eis que uma outra se eleva, fazendo-se entrar no Oratório, como um grande sopro proveniente das regiões onde pairam o Espírito, a própria Alma de todas as Fraternidades! Eis que, misteriosa mas inspiradora, inumana, mas divina, incognoscível mas Iluminadora, eis que entra a sombra de Elias, o Artista…

Lá fora, a noite enfim caiu, Paris é envolvida por um silencioso manto branco. Neva o tempo todo. E o frio se torna mais ardente ainda. Nas ruas, nas praças, por toda parte, o exército alemão vitorioso. E por todo lado também, suspeitas e vigilância, interrogatórios e perseguições, perseguições e invasões, invasões e prisões. Às centenas, atentados anônimos em represália, os reféns caem, fuzilados. Em apenas alguns meses, os comboios partirão para os campos de concentração para os trabalhos forçados sobre a fronte do leste, de onde não há retorno…

E, como nas horas vermelhas da Idade Média, o terror reina sobre os Iluminados.

Primeiramente, foram atacadas as Obediências Maçônicas livres pensadoras ou ateias, unicamente ocupadas com a pura política. Depois, as Obediências espiritualistas. Enfim, chegou-se às organizações paramaçônicas. Isto acostumou a Opinião… E agora retoma-se a luta secular, entravada por setenta anos de liberalismo ideológico. Pois, atrás da Franco-Maçonaria e de suas filiais, há uma outra coisa a alcançar! O que se quer abater, definitivamente, e para sempre em um golpe mortal, é a Heresia, essa eterna inimiga! E atrás da Heresia, seu animador secular: o Ocultismo!… Enfim, eis a grande palavra largada!…

Isso não se gritará sobre os telhados, pelo menos, não de imediato! Mas, antes de tudo, serão seus arquivos, seus manuscritos, seus estudos doutrinários ou históricos, que serão a vedete no curso das pesquisas.

Mas em vão! É o que esta obra vai demonstrar.

Em um livro, editado na primavera do pesado ano de 1939, tratando do simbolismo das Catedrais Góticas, escrevíamos essas linhas inconscientemente proféticas:

Se o furacão, materialista e negador, conseguisse incendiar o mundo; se novos bárbaros arrasassem as bibliotecas e museus, realizassem a terrível profecia de Henri Heine, se o martelo de Thor esmagasse definitivamente nossas velhas catedrais e suas maravilhosas mensagens, gostaríamos de crer ainda na salvação do essencial saber!”

A tempestade passou, em um mundo que se tornou novamente bárbaro, ainda se encontraria alguns homens, suficientemente intuitivos, exaltados pelo mistério e pelo infinito, para ir piedosa e pacientemente reavivar a lâmpada antiga perto do famoso manto de púrpura onde dormem os deuses mortos…

E, novamente, através da grande Noite do Espírito, a flama verde do saber oculto guiaria os Homens ao seu maravilhoso Reino, cintilante e radiante ‘Cidade Solar’ dos filósofos e sábios”.

Que a Paz, que a Alegria, que a Caridade estejam em nossos corações e em nossos lábios, agora e para sempre…!”

Dezembro de 1940: a última frase do ritual dos “Iniciados de Saint-Martin” respondeu por nós…!

DOS ERROS E DA VERDADE” — A PRIMEIRA OBRA DO FILÓSOFO DESCONHECIDO CONTENDO A ESSÊNCIA DE SUA DOUTRINA

Primeira obra do Filósofo Desconhecido "Dos Erros e da Verdade" contendo a essência da doutrina martinista.

Um trabalho de fundamental importância para todos os martinistas e admiradores do Filósofo Desconhecido. No entanto, seu estudo deve ser associado à prática mística com o objetivo de promover a abertura de nosso sensório interior, pois é somente através desta abertura que conseguiremos penetrar no sentido do texto. Por essa razão, o tradutor colocou na primeira parte desta tradução um Suplemento Martinista Prático que consta de exercícios, conselhos e dicas com o objetivo de fornecer ao HOMEM DE DESEJO a abertura necessária de seu “sensório interior”, de modo que possa penetrar em seu Templo Interno e dali extrair os tesouros que lhe são reservados pela Divina Providência. Saiba mais:

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I

A HISTÓRIA E AS ORIGENS
MARTINEZ DE PASQUALLY E OS “CAVALEIROS ELUS COHEN DO UNIVERSO”

Entre os diferentes ritos dos quais se ocuparam, em tempos imemoriais, os Maçons mais instruídos e mais compenetrados de persuasão íntima que, à perseverança deles em nossos Trabalhos, deve acrescentar a soma de seus conhecimentos, e fazê-los chegar às Altas Ciências, o Rito dos ‘Elus-Cohen’ é o que conquistou os mais elevados, e conservou com o mais alto cuidado o segredo de seus misteriosos trabalhos…!”

Tal é a definição da Ordem de Maçonaria Iluminista que encontramos nos Estados do Grande Oriente por volta de 1804, tomo I, fascículo 4, página 369. Esta apreciação, vinda de uma Obediência Maçônica que, precisamente, nunca passou por mística e que devia, como consequência, riscar de seus Rituais a Invocação ao Grande Arquiteto do Universo e escorregar insensivelmente da filosofia eclética para a pura política, possui um peso singular.

E um de seus mais eruditos e mais imparciais historiadores que se ocupou das Obediências da Maçonaria Mística, Gérard Van Rijnberk, nos declara que: “Não se pode negar que a Ordem dos Elus Cohens se constituiu um grupo de homens animados pela mais alta espiritualidade...” (1).

Um outro historiador, especialista nos grandes valores das questões relativas à Alta Maçonaria Ocultista, o Sr. Le Forestier, nos disse mais ou menos a mesma coisa, sublinhando, além disso, o caráter puramente altruísta e desinteressado desta fraternidade, mais ocultista e mais mística do que qualquer outra, ainda que Maçônica no sentido geral da palavra.

É por isso, que de todas as múltiplas “Ordens” de Maçonaria Iluminista, que eclodiram na França e na Europa no decurso do agitado século XVIII, nenhuma teve uma influência comparável à que entrou na História sob o nome comum (e aliás impróprio) de Martinismo.

(1) “Um Taumaturgo do século XVIII”: Martinez de Pasqually (Alcan, 1935)

Seu surgimento coincide com a aparição de um personagem estranho, que se chamava Martinez de Pasqually. Ainda nos dias atuais, todas as hipóteses mais romanescas ainda ocorrem sobre seu nome e sobre suas origens. Uns dizem que ele é de raça oriental (sírio); outros afirmam que ele era judeu polonês. Martinez de Pasqually não foi nem uma coisa e nem outra, e seus detratores interessados — a menos que prefiram usar informações históricas falsas, o que é moralmente muito grave — não podem mais ignorar ou dissimular os documentos, definitivos visto seu caráter, que nós possuímos. São eles:

1) A certidão de casamento do Mestre com a Srta. Marguerite Angélique de Collas;

2) O certificado de catolicidade, com a data de 29 de abril de 1772, registrado antes de sua partida para São Domingos, com o navio “O Duque de Duras”.


Destes dois documentos, publicados pela Sra. René de Brimont, que se encontram nos arquivos municipais da cidade de Gironde, onde qualquer um pode consultá-los, resulta que o personagem se chamava bem exatamente:

Jacques de Livron Joachim de la Tour de la Case Martines de Pascally.

Ele era filho de “Messire de la Tour de la Case”, nascido em Alicante na Espanha, em 1671, e da senhora “Suzanne Dumas de Rainau”.

Ele nasceu em Grenoble, em 1727, e morreu em São Domingos no dia 20 de setembro de 1774.

Nenhum dos nomes pátrios precedentes nos faz supor que ele tenha sido judeu. E ainda bem menos o fato de ter morado em Bordeaux, por um certo período de sua vida, e isso em uma “rua judaica”. Pois, se a vizinhança do gueto tivesse que ser considerada (e logicamente, como?), bastaria então objetar que em Paris, ele fosse descendente dos Augustins das margens do Sena sem, no entanto, sê-lo!

Emitimos a hipótese que ele fosse, talvez, de ascendência judia, ou judeu convertido. Objetaríamos novamente que a história se escreve com documentos, e não por suposições, e que este vigor intenso de certos “historiadores” interessados em que ele fosse ao mesmo tempo judeu e franco-maçom, nos parece extremamente suspeita no que diz respeito as intenções finais. A verdade é que, ainda que ignorando o hebraico (e ele provou isso em seus trabalhos) ele era apaixonado pela Qabalah e, como todos os praticantes da Magia Cerimonial, foi induzido a utilizar tradições e elementos materiais judaicos. Mas, seu discípulo, o marquês Louis-Claude de Saint-Martin, que durante toda sua vida nunca se separou de uma bíblia hebraica, não agiu diferentemente e, como ele, utilizou elementos hebraicos, base de toda a tradição religiosa cristã.

Não ignoremos que o fato de reconhecer aqui mesmo, lealmente, que todas as tradições mágicas e cabalistas do Ocidente são, em sua maioria, compostas de elementos judeus. Isso fará sobressaltar de prazer os fanáticos adversários de todo o conhecimento transcendental! Nós lhes pediremos simplesmente, com toda lealdade, para querer lançar o mesmo “descrédito” sobre uma religião, mestres e de uma hipóstase divina, cuja a maioria defende, imprudentemente, a saber: o cristianismo…

Deixemos de lado os modernos fariseus e definamos nova e rapidamente o histórico da Ordem dos Elus Cohen. (Cohen em hebraico significa sacerdote)

Martinez de Pasqually passou a sua vida ensinando aos maçons franceses das Obediências ordinárias (e que vagavam de sistemas filosóficos em sistemas filosóficos), e isto sob o espectro exterior de um Rito Maçônico ordinário, um verdadeiro ensinamento iniciático, suscetível de revestir o aspecto de uma teodiceia, de uma cosmogonia, de uma gnose e de uma filosofia.

A fim de ter indivíduos já meio formados para uma certa disciplina, intelectual e material, somente aceitava em sua Ordem maçons regulares, titulares do grau de “Mestre” (terceiro grau).

Mas, por outro lado, como ocorria que indivíduos de grande interesse lhe chegassem por canais da vida “profana”, ele estabeleceu, na base de seu sistema, uma transmissão anterior suficientemente rápida dos três graus da Maçonaria ordinária (Maçonaria azul ou de São João).

De fato, se compreenderá na sequência que a razão secreta desta afiliação anterior à maestria Maçônica residia no fato de que sua escola baseava-se na mesma lenda, no mesmo mito da Franco-Maçonaria. A lenda de Hiram, apresentada sem comentários, sem nenhuma alusão a seu esoterismo, Martinez de Pasqually dava uma explicação transcendental, esqueleto de seu sistema teogônico. Mas, ele o deu nas classes superiores da Ordem sob este segundo aspecto, deixando para os três graus inferiores ordinários a apresentação lendária, comum a todas as Obediências.

Martinez de Pasqually percorreu misteriosamente uma parte de França, o sudeste e a região central, principalmente. Saindo de uma cidade sem dizer para onde ia, ele chegava mesmo sem ninguém saber de onde vinha.

Ele começou, mais provavelmente, sua missão em 1758, uma vez que, em sua carta de 2 de setembro de 1768, ele declara que seus irmãos de Aubenton, comissários da Marinha real, são seus adeptos há mais de 10 anos. Propagando sua doutrina, ele reuniu adeptos nas lojas de Marselha, Avignon, Montpellier, Narbonne, Foix, Toulouse. Ele se estabeleceu, enfim, em Bordeaux, onde ele chegou em 1762. Ali, ele deveria desposar a sobrinha de um antigo major do Regimento de Foix.

Mas, antes de começar seu apostolado místico, ele anteriormente desenvolveu uma certa atividade maçônica.

Seu pai, Don Martinez de Pasqually, era titular de uma carta patente maçônica em inglês, emitida em 20 de março de 1738, pelo Grande Mestre da Loja de Stward, com o poder de transmissão ao seu filho mais velho, com o poder de “constituir e dirigir como G.’. M.’. das Lojas e dos Templos para a Glória do G.’. A.’. D.’. U.’.”

Foi assim que Martinez esteve em condições de fundar em 1754, em Montpellier, o Capítulo “Os Juízes Escoceses”. De 1755 a 1760, ele viaja por toda a França, recrutando adeptos. Neste último ano, ele fracassa em Toulouse, nas lojas azuis ditas “De São João Reunidas”. Em Foix, a Loja “Josué” lhe reservou uma simpática acolhida. Lá, ele iniciou diversos maçons e fundou um Capítulo: o “Templo Cohen”.

Em 1761, apresentado pelo conde de Maillial d’Alzac, o marquês de Lescourt, os dois irmãos de Aubenton, ele é afiliado (graças à sua patente familiar), na Loja “A Francesa”, de Bordeaux. Lá, ele constrói o que ele denomina seu “Templo Particular” (do latim particula: parcela, célula, redução). Dela são membros os quatro personagens precedentes mais os srs. de Casen, de Bobier, Jules Tafar (ex-major dos “Granadeiros Reais”), Morrie e Lescombart. Esta loja recebe o nome de “A Perfeição Eleita Escocesa”. Em março de 1766, a dita loja se dissolve. Notemos que até esta data, Martinez teve como secretário o Padre Bullet do Regimento de Foix, encarregado de distribuir esmolas aos pobres, que recebera o título (pela primeira vez empregado pelo Mestre) de “S. I.”. Podemos admitir, com justa chance de acerto, que foi o caráter do Padre Bullet que lhe rendeu esta denominação interior de Superior Incógnito da Ordem, ou ainda — se tomarmos o “I” e considerá-lo com um “J” — de “Soberano Juiz”. Este título, Martinez de Pasqually lhe havia concedido como teólogo da Ordem! Mas, na sequência, antes de sua partida para São Domingos, ele o concedeu a cinco de seus dignatários. E seria a disciplina doutrinária e interior que estes “Soberanos Juízes” ou “Superiores Incógnitos” seriam conduzidos a vigiar… Nos os encontraremos novamente com uma outra ramificação.

Vimos mais acima que em 1764, a “Francesa Eleita Escocesa” havia sido fundada. Mas, seria somente em 1765, em 1o de fevereiro, que a Grande Loja da França liberaria, após numerosas cartas, uma patente autorizando a fundar esta loja e inserir este “Templo” em seus quadros.

Neste mesmo ano, Martinez de Pasqually parte para Paris. Ele fica hospedado na casa dos Augustins, no cais do Sena. Lá, ele se põe em contato com numerosos maçons eminentes: os IIr.’. Bacon de La Chevalerie, de Lusignan, de Loos, de Grainville, J. B. Willermoz, entre outros, aos quais ele ministra suas primeiras instruções. Com o apoio deles, em 21 de março de 1767, (no Equinócio de Primavera), ele lança as bases de seu “Tribunal Soberano”, e nomeia Bacon de La Chevalerie seu substituto.

Em 1770, a Ordem dos Cavaleiros Elus Cohens do Universo possuía templos um pouco em toda parte: Bordeaux, Montpellier, Avignon, Foix, Libourne, La Rochelle, Versailles, Paris, Metz. Um outro se abriu em Lyon, graças à atividade do Ir.’. J. B. Willermoz, e esta cidade permaneceu durante muito tempo, como consequência, a “capital” simbólica da Ordem.

Na história “nominativa” da Ordem, convém notar dois nomes. Seus detentores sucederão, de fato, o Mestre, em domínios diferentes, mas continuarão sua obra geral. Nós os encontraremos daqui a pouco. Por hora, nos lembremos de Jean-Baptiste Willermoz e de Louis-Claude de Saint-Martin.

Martinez de Pasqually mudou, por várias vezes, seus ensinamentos práticos. Se a doutrina geral permaneceu invariável, o mesmo não aconteceu para a constituição da Ordem, para seus graus, para seus rituais, assim como para a recepção e para as operações.

É por isso que temos os traços de duas constituições interiores desta Obediência Mística, de acordo com o que se refere a um tal lote de arquivos ou a um outro.

Uma das duas séries compreende a seguinte classificação:

Maçonaria Ordinária ou dita de São João

Aprendiz

Companheiro

Mestre

Classe dita de Pórtico

Aprendiz Cohen

Companheiro Cohen

Mestre Cohen

Mestre Particular

Graus do Templo

Grande Mestre Elus-Cohen

Cavaleiro do Oriente

Comandante do Oriente


Classe Secreta

Réau-Croix

Eis a segunda série, a mais comum nos documentos:

Maçonaria azul dita de São João

Aprendiz Maçon

Companheiro

Mestre Grande Eleito

Classe dita de Pórtico

Aprendiz Cohen

Companheiro Cohen

Mestre Cohen

Graus de Templo

Grande Arquiteto

Grande Eleito de Zorobabel

Classe Secreta

Réau-Croix

Observemos — aqui sua importância — que, em Maçonaria, os títulos de aparência pomposa e miríficas são, na realidade, véus fonéticos, lançados sobre os títulos, infinitamente mais esotéricos, porém, sua própria potência evocadora impõe a necessidade de ser dissimulada aos olhos dos vulgares. Nesta ordem de ideias, é preciso considerar as denominações da Ordem dos Elus Cohens “Grande Arquiteto” e “Grande Eleito de Zorobabel” como regidas por este uso hermético. Assinalaremos simplesmente que o nome de “Zorobabel” é o nome do arquiteto que, a exemplo de Hiram, reconstruiu o Templo de Jerusalém após o cativeiro. As emboscadas e as ameaças dos povos idólatras vizinhos colocaram Zorobabel (nos conta a lenda bíblica) na obrigação de fazer trabalhar seus operários, “a colher de pedreiro em uma mão e o gládio em outra”. Vê-se aí o paralelo esotérico estabelecido por Martinez de Pasqually entre os companheiros construtores do segundo Templo e os maçons místicos de sua Ordem, edificando a Cidade Celeste, reconstituindo o Arquétipo inicial, e tendo que lutar, o gládio teúrgico na mão, contra as Entidades das Trevas. Igualmente, Zorobabel que significa em hebraico “Adversário da Confusão” esta palavra tornou-se o nome geral dos dignitários deste grau, os mostra opondo-se à confusão oriunda do fracasso sofrido pelo Homem, antigamente, em Babel, tentando fazer com que a Humanidade fale novamente a mesma linguagem… (Babel significa de acordo com a Bíblia: confusão).

Os graus simbólicos ordinários (Aprendiz, Companheiro e Mestre) pertencem à Maçonaria tradicional. Eles eram destinados a dar ao profano entrada na Ordem, a necessária qualidade de Mestre exigida pela Regra para poder aceder ao grau e às funções de Reáu-Croix. Nos rituais e nos catecismos, eram feitas alusões muito raras a esta Doutrina Secreta que lhe havia sido prometida de fazê-lo conhecer e que não entraria no quadro normal da Franco-Maçonaria corrente. Isso permitia receber os “irmãos visitantes” de outras Obediências, as quais, nesta época, não iam além do grau de Mestre, o único reconhecido pela Grande Loja da França (os altos graus vieram mais tarde). Assim, os ditos visitantes não podiam reportar à Grande Loja o ensinamento um pouco peculiar que era transmitido nos Templos Cohen, que ela havia reconhecido e adotado em 1o de fevereiro de 1765.

Os graus de Pórtico (Aprendiz-Cohen, Companheiro-Cohen e Mestre-Cohen), mantinham ainda suficientemente o caráter externo maçônico. Todavia, eles eram mesclados com alusões, com expressões, com ensinamentos enigmáticos, ambíguos, destinados a dar uma pequena abertura, já por relances, da Doutrina Secreta reservada aos graus superiores.

Os graus ditos de “Templo”, podemos dizer que constituíam o que conveio chamar-se de “altos graus”. Os graus de “Grande Arquiteto” e de “Grande Eleito de Zorobabel” conservam ainda os emblemas e o simbolismo maçônico (estolas, cordões, joias, forma da ritualística em si, etc.). Contudo, seus catecismos transportam o candidato para o pleno esoterismo místico e, mais particularmente, no da Doutrina Geral.

No grau de “Grande Arquiteto”, é fundamental purificar-se pelo regime ascético particular da Ordem (abstenção de certas carnes, de certas partes de animais autorizadas, de gorduras, etc.) no espírito do Antigo Testamento — regime dos levitas. Competia-lhes expulsar as Potências das Trevas, que invadiram a aura terrestre, por meio de suas cerimônias mágicas efetuadas em conjunto, ainda que dispersos; de cooperar “simpaticamente”, e sob uma forma especial nas Operações particulares efetuadas pelo próprio “Soberano Mestre”. Este grau era o equivalente ao Aprendiz Réau-Croix. (Era o papel atribuído aos “Cavaleiros do Oriente” definido pelos arquivos recolhidos por Papus).

O grau seguinte de “Grande Eleito de Zorobabel” ou de “Comandante do Oriente” equivalia ao “Companheiro Réau-Croix”. Como todos os graus de companheiro dos diversos “regimes” maçônicos, este era ao mesmo tempo neutro e ambíguo, mal definido, todavia, pleno de mistérios e enigmas em sua ritualística. É um grau cujo equivalente Cohen era baseado sobre a lenda de Zorobabel, relatada mais acima. Havia nele a questão de uma ponte emblemática, misteriosa, análoga a lançada sobre o Cefiso, e que devia fazer a travessia dos mistos (místicos) em torno de Elêusis.

Neste grau, o afiliado dá uma trégua às “Operações” cerimoniais. Ele se recolhia por algum tempo, retornava às teorias fundamentais, e se preparava por uma espécie de retorno a si mesmo (verdadeiro acúmulo, refreamento físico) para a sua futura ordenação como Réau-Croix.

A classe “secreta” era a dos Réau-Croix. Ela compreendia, nos dizeres de todos os historiógrafos da Ordem, somente um grau. Porém, algumas expressões abreviadas que encontramos nas cartas de Claude de Saint-Martin, na época em que era secretário do Mestre (no lugar de P. Bullet, falecido), nos faz crer que esta classe continha dois graus. De fato, há um grau abreviado por duas letras: G. R. do qual fala Saint-Martin em algumas cartas (1). E isso nos faz imaginar que, talvez, existia por detrás do grau de Réau-Croix, este, mais secreto ainda, de “Grande Réau-Croix” ou de “Grande-Réau” (R.G.)

(1) Publicado por Papus em seu “Saint-Martin”.

Esta classe tinha como objetivo, por seus ensinamentos esotéricos, colocar os dignatários em relação direta com os mundos do Além, o das Potências Celestes, e isso por intermédio das Evocações da Alta Magia. Ao passo que o grau de “Grande Arquiteto” ensinava a expulsar as Potências Demoníacas da aura da Terra, por meio de exorcismos mágicos, o grau de “Réau-Croix” ensinava o meio de evocar as Potências Celestes, de atraí-las “simpaticamente” nesta mesma aura terrestre. Além disso, elas permitiam aos Réau-Croix, por suas manifestações (auditivas ou visuais) aparentes, de avaliar o grau de evolução que o evocador alcançara e ver se ele se encontrava “reintegrado aos seus poderes primitivos”, de acordo com a expressão do Mestre.

É, por conseguinte, errado que se espalhou essa opinião geral de que a Teurgia dos Elus Cohen pertencia simplesmente ao domínio do exorcismo mágico cerimonial. Ela englobava igualmente o capítulo das Evocações mas esta, somente com um objetivo puramente desinteressado, e com relação aos Seres de Luz viventes no seio das “regiões espirituais” do Além.

Resta o grau, provável, de “Grande Réau-Croix”. Colocaremos aqui uma hipótese que não deve ser rejeitada logo de cara. Documentos históricos, publicados por G. Van Rijnberk em sua obra (1) nos relata que a prova suprema da Ordem, a última Operação, que nunca foi conseguida, parece, mas que havia sido definida, devia ser a evocação do “Cristo de Glória”, aquele que o Mestre nomeia de Reparador e que era (segundo a Doutrina da Ordem), o Adam Kadmon reintegrado.

Isso, então, elevaria para onze o número dos graus da segunda série dos graus cohen, e a doze o da primeira série.

Ora, onze é um número que os cabalistas consideram como maléfico. Onze é o número correspondente à letra KAPH (inicial da palavra “kala”, morte). Se suprimíssemos este grau de “Grande Réau-Croix”, a primeira série (elevada assim a onze graus) ficaria incompleta. Se a acrescentarmos à segunda, então, seria demais!

O enigma permanece completo…

Diremos uma última palavra sobre o grau de “Mestre Particular” ou “Grande Eleito”, colocado nas duas séries entre a classe de Pórtico e a ordinária.

Ele era provavelmente um grau “vingador”. De fato, todos os regimes maçônicos acreditaram que era bom intercalar, em sua hierarquia, um grau dito de “vingança”. Nele, o candidato aprende a sorte reservada aos maus irmãos, aos maus companheiros, aos traidores e aos perjuradores. Melhor ainda, fazia-se com que ele vivesse, em uma espécie de jogo simbólico, de “mistério” no sentido medieval, a simbólica condenação à morte dos ditos traidores.

Esta ritualística, aparentemente sem motivos, não tinha outra função ou outro objetivo a não ser o de “recarregar” magnética e fisicamente a Egrégora da Obediência, a alma, oculta e invisível que a vivifica realmente, fazendo-a, por exemplo, reagir automaticamente, e sem que seja necessário renovar a cerimônia contra o falso companheiro.

Isso explica como os traidores, os maus irmãos, os perjuradores de seus juramentos, muitos deles que se tornaram adversários da Franco-Maçonaria, tenham todos acabado tragicamente, sem mesmo que os homens se envolvam diretamente! Ligados antecipadamente por este destino, por um juramento muito claro, livremente consentindo à sorte que lhes aguarda se chegarem a trair, eles são, por este fato, expostos às reações vingativas da Egrégora. E quando se colocam como exemplo de sofrer a lei inexorável, eles desencadeiam automaticamente o choque de retorno vingador e o castigo. Está aí a razão de ser dos “ritos de vingança” e seu motivo oculto.

Resta um outro grau, mal definido, mas que não é menos historicamente provado. É o dos “Superiores Incógnitos” ou dos “Soberanos Juízes”. Ele foi concedido a cinco dignatários da Ordem, todos “Réau-Croix”. De acordo com o Príncipe Cristão de Hesse (citado por C. Van Rijnberk em sua obra sobre Martinez de Pasqually), em sua carta ao “Grande Profeta” da Estrita Observância Templária, Metzler, senador de Francfort-sur-Mein, estes cinco foram: Bacon de La Chevalerie, J. B. Willermoz, de Serre (ou Desserre), du Roy Hauterive e de Lusignan.

Objetou-se que as relações, nesta época, eram mais tensas entre Bacon de La Chevalerie e Martinez, por estimar improvável que este tenha sido, assim designado pelo Mestre para tomar lugar entre os chefes ocultos, que ele deixava de vigiar sobre sua obra. Esquece-se que Martinez de Pasqually era um homem exigente sobre tudo o que tocava a ritualística, a regularidade, as formas materiais das transmissões. E não era um simplificador, como Louis-Claude de Saint-Martin, mas um ser que mantém as “legitimações” ritualísticas, como Willermoz. A diferença dos dois na aplicação da mesma doutrina dão prova disso. E é plausível admitir que Bacon de La Chevalerie, que foi o primeiro Elus Cohen a preencher o posto de “Substituto” do Grande Mestre não podia ser excluído pelo mesmo fato do “Tribunal Soberano” ser constituído pelos cinco “S. J.” ou “S. I.” (o “i” e o “j”, sendo nesta época, letras comumente empregadas uma no lugar da outra). Além disso, que o dito Bacon de La Chevalerie havia feito parte (como substituto) do primeiro “Tribunal Soberano”, constituído em 1765, em Paris, por ocasião da estada de Martinez de Pasqually na capital.

Esta última tarefa efetuada, o Mestre embarcou, no mês de maio de 1772 para São Domingos, no navio “O Duque de Duras”. É nesta época que ele teve que tirar o seu famoso certificado de catolicidade. O navio partiu de Bordeaux, sua residência, e este certificado de catolicidade vem em apoio ao ato de batismo de seu filho (batizado na Igreja de Saint-Croix, em 24 de junho de 1768, dia da festa de São João no verão) para demonstrar que Martinez de Pasqually não era judeu. Certamente, não era um católico muito ortodoxo. Como todos os ocultistas, como todos os iniciados nas tradições esotéricas, aos olhos da Igreja Romana, Martinez é, oficialmente, um herético. Mas, era incontestavelmente um cristão, uma vez que ele faz do Cristo (o Reparador), o centro de toda sua doutrina. É igualmente um cabalista, uma vez que ele imagina o Messias à maneira dos esoteristas desta escola mística. Bom Católico? Não… Exteriormente! Cristão? Certamente. Seu primeiro secretário, o Padre Bullet, distribuidor de esmolas do Regimento de Foix; e um de seus primeiros discípulos é o Abade Fournier. Mas é, acima de tudo, um homem prodigioso, com seus defeitos e suas qualidades, como todos os homens. E mais ainda, se a tarefa sobrepunha o artesão, pode-se dizer que este último se superou honoravelmente…

Partiu para receber uma herança (de que natureza?…), Martinez de Pasqually morreu em Port-au-Prince, em 20 de setembro de 1774. Ele deixou um filho que fazia seus estudos no colégio de Lescar, perto de Pau. (Esta criança deveria desaparecer, vinte anos mais tarde, no curso da tormenta revolucionária). No dia de sua morte, ele apareceu para sua mulher, parecendo atravessar o cômodo em diagonal, e esta imediatamente exclamou: “Meu Deus! Meu marido morreu”. Na sequência, a notícia chegou na França, e foi reconhecida como exata.

Antes de morrer, Martinez de Pasqually havia designado por seu sucessor, seu primo, Armand Cagnet de Lestère, comissário geral da Marinha, em Port-au-Prince. Porém, com a morte do Mestre, o “T.’. P.’. M.’.” (Mui Poderoso Mestre) não pôde ocupar-se ativamente da Ordem, somente para os Templos Cohen de Porto Príncipe e de Leógane, pelo menos para aqueles da Europa. Cisões se produziram, inevitáveis em toda obra humana. Quando ele morreu, por sua vez, em 1778 (quatro anos após Martinez de Pasqually), ele havia transmitido seus poderes ao “M.’. P.’. M.’.” Sebastien de Las Cases.

Este último não achou necessário reatar as relações interrompidas entre os diversos “orientes” Cohen e de refazer a união e a unidade do Rito. Pouco a pouco, os Templos se colocaram “em dormência”. Porém, os Elus Cohen continuaram a propagar a Doutrina da Ordem, seja individualmente e “de boca a ouvido”, de acordo com o famoso adágio, seja coletivamente, seja em grupos secretos, compostos imutavelmente por 9 membros, e que recebiam o nome de “Areópagos Cabalísticos”. E, em 1806, as famosas “Operações” comuns ainda ocorriam nos Equinócios.

O ensinamento oculto de Martinez de Pasqually foi, então, transmitido no corrente século XX, por um lado pelos Elus Cohen, cujo um dos últimos representantes diretos foi o “M.’. P.’. M.’.” Destigny, falecido em 1868, e por outro lado por alguns afiliados do “Rito Escocês Retificado” denominado ainda “Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa” rito de maçonaria mística oriunda da “Estrita Observância Templária” (Maçonaria Alemã) quanto à sua forma, mas tornou-se, em seguida, totalmente independente. Estes afiliados eram detentores das instruções secretas, reservadas aos Réaux-Croix, e que lhes haviam sido transmitidas por J. B. Willermoz.

Aí, termina a afiliação direta, nos parece, pequenos grupos de Cohen, oriundos de iniciações individuais efetuadas pelos últimos descendentes diretos e regulares do Mestre e que, em algumas cidades da França, sobreviveram a morte da Ordem oficial. E este único detalhe demonstra bem as raízes sólidas e profundas, que haviam sido lançadas mesmo no meio invisível, a Cavalaria Mística suscitada pelo enigmático viajante e mestre misterioso, que foi Martinez de Pasqually...

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